Já ouviu falar em ‘ecografias emocionais’? Está a pensar fazer uma? Vamos refletir?
De seguida, partilho consigo informação sobre este assunto para que possa distinguir o que são ecografias necessárias durante a gravidez e o que são ecografias desnecessárias, sem qualquer objetivo e necessidade clínicos que as justifiquem.
Todas nós, mães, percebemos a necessidade e o desejo de ver o bebé por nascer. Mas também é importante perceber que, a essa necessidade e desejo, deve sobrepor-se a preocupação com a saúde do bebé.
Existem muitas outras formas de saber se um bebé por nascer está bem e de fomentar a relação da mãe e do pai com ele, mesmo durante a gravidez. Não precisamos de ‘ecografias emocionais’ para nos relacionarmos com o nosso bebé in utero. Ele está dentro do corpo da mãe – a mãe e o bebé estão fisicamente ligados, e emocionalmente, desde que ele se começa a gerar!
O que é importante reter sobre as ecografias na gravidez?
Tudo, tudo, o que se faz na gravidez e parto tem impacto na saúde do bebé – consequências que, em muitos casos, ainda nos são totalmente desconhecidas, pois ainda há tanto, mas tanto, que se desconhece.
Em 1º lugar, existe evidência científica de que ultra-sons rotineiros, em gravidezes normais, de baixo risco, após as 24 semanas, NÃO trazem qualquer vantagem à mãe ou ao bebé.
Também NÃO se encontrou qualquer diferença, a nível de resultados quanto a morte perinatal, parto pré-termo, taxa de cesariana e indução de parto, entre quem faz apenas os ultra-sons previstos clinicamente VS quem os faz rotineiramente. Ver revisão da Biblioteca Cochrane aqui: http://www.cochrane.org/CD001451/PREG_routine-ultrasound-in-late-pregnancy-after-24-weeks-gestation-to-assess-the-effects-on-the-infant-and-maternal-outcomes.
Em 2º lugar, cada vez mais a ciência tem descoberto que as ultrasonografias têm consequências nos tecidos e, tal como há umas décadas se usavam radiografias na gravidez rotineiramente e se pensava que não existiam consequências, hoje sabemos, e bem, que isso teve consequências nesses bebés.
Atualmente, sobre as ecografias, ainda há muito que não se sabe, mas sabe-se já o suficiente para que as organizações internacionais responsáveis – e mesmo a Direção Geral de Saúde – recomendem o MÍNIMO INDISPENSÁVEL de ecografias na gravidez.
Estamos a expor os nossos bebés a riscos conhecidos e DESCONHECIDOS com o excesso de tecnologia ‘emocional’ na gravidez!
A FDA (Food & Drug Administration) tem o seguinte parecer sobre este assunto (tradução livre):
Apesar das ultrasonografias serem consideradas, de um modo geral, seguras, quando usadas de forma prudente por profissionais de saúde apropriadamente treinados, a energia dos ultra-sons tem o potencial de produzir efeitos biológicos no corpo. As ondas de ultra-som podem aquecer ligeiramente os tecidos. Em alguns casos, podem chegar a produzir pequenas bolsas de gás nos fluidos corporais ou tecidos (cavitação). As consequências a longo prazo destes efeitos continuam por desvendar.
As preocupações relativamente a estes efeitos nos fetos tem levado a que, organizações como a American Institute of Ultrasound in Medicine, advoguem uma utilização prudente das ecografias na gravidez. Além disso, a utilização dos ultra-sons, puramente para fins não-médicos – como por exemplo para obtenção de vídeos fetais de recordação (as ditas ecografias emocionais) – tem sido desencorajada. Imagens ou vídeos obtidos durante as ecografias fetais são razoáveis se forem produzidos durante um exame clinicamente necessário, e sem que isso implique exposição adicional.
Ler tudo aqui: https://www.fda.gov/Radiation-EmittingProducts/RadiationEmittingProductsandProcedures/MedicalImaging/ucm115357.htm#benefitsrisks.
Em 3º lugar, tenha em conta que, na maioria dos casos, as pessoas que fazem este tipo de ‘brincadeira’ com ecógrafos – para levar a cabo as ditas ‘ecografias emocionais’ – não passam de técnicos sem qualquer formação na área da saúde, sem qualquer formação e creditação para realizar um exame que devia ser SEMPRE um exame médico e realizado por um clínico treinado e habilitado para tal! Aconselhe-se com o seu médico obstetra, enf. especialista em saúde materna ou médico de família sobre as ecografias que deve fazer!
Em 4º lugar, vale a pena lembrar que, em Portugal, a DGS recomenda 3 ecografias para gravidezes de baixo risco – e mais se clinicamente necessário. Sendo que o esquema recomendado é o seguinte:
1º TRIMESTRE – 11 a 13 semanas + 6 dias
2º TRIMESTRE – 20 a 22 semanas
3º TRIMESTRE – 30 a 32 semanas
Pode consultar esta norma em: https://www.dgs.pt/directrizes-da-dgs/normas-e-circulares-normativas/norma-n-0232011-de-29092011-atualizada-a-21052013-jpg.aspx
Tendo em conta tudo o que se sabe e ainda não se sabe sobre as consequências das ecografias, é preciso sermos MUITO cautelosas para que o número de ecografias ao longo da gravidez não exceda o necessário e recomendado para a situação clínica específica da mãe e/ou bebé por nascer.
FILIPA DOS SANTOS. DOULA DE PARTO E PÓS-PARTO. ACONSELHAMENTO EM ALEITAMENTO MATERNO E ASSESSORIA DE LACTAÇÃO.