A história da Estela Silva


Até ao nascimento do meu filho, em Maio de 2013, nunca tinha pensado na amamentação. Na minha família, não há recordação de bebés amamentados. Pelo contrário, lembro-me de preparar e dar biberões de leite artificial ao meu irmão mais novo, quando tinha cerca de 15 anos. Nunca tinha reparado em mães a amamentar os seus bebés, muito menos em locais públicos.

Tenho 38 anos, nasci e vivo em Alfena, sou licenciada em Contabilidade e trabalho a tempo inteiro num escritório. Por isso, até ser mãe, a amamentação era um assunto que não me dizia nada.

Foi uma das aulas de preparação para o parto, durante a gravidez, que me despertou para o tema, em que nos transmitiram que o aleitamento materno é a melhor forma de alimentação infantil, que proporciona mais saúde e desenvolvimento intelectual aos bebés. Sendo eu da área financeira, também não me podia passar despercebida a vantagem económica do leite materno – poderia poupar imenso dinheiro por amamentar!

O meu filho nasceu e a amamentação começou por correr bem. No entanto, detetaram-lhe icterícia ao segundo dia de vida e a necessidade de fazer fototerapia começou a colocar algumas dificuldades. Ao terceiro dia, já estavam a administrar suplemento para ajudar os valores a subir e poder sair do berço da fototerapia. Nesta altura, pensei que fosse “normal” e por isso não me incomodou particularmente.

Durante a minha estadia no hospital, muito pouco me explicaram sobre a amamentação. O meu bebé tinha dificuldade em mamar num dos lados. Uma das enfermeiras percebeu e tentou posicioná-lo de outra forma e disse-me com voz forte: “Não quero acabar o turno sem ver esse bebé a mamar bem nessa mama!” Aquela enfermeira, que parecia ser rude, tinha, afinal, um bom coração e conseguiu ajudar-nos.

Fomos para casa sem suplemento e tudo parecia encaminhado, até que por volta das seis semanas de vida, o L. começou a pedir mama com muita frequência – estava sempre mais de uma hora a mamar e não espaçava “as tais 3 horas”. Comecei a sentir-me exausta e sem tempo para fazer as tarefas domésticas. O meu marido pegava nele ao colo e passado pouco tempo dizia-me: “O menino está a chorar de fome!” Eu não entendia o que se passava. Diziam-me: “O teu leite não é suficiente”, “O teu leite não satisfaz”, etc.

Entretanto chegou o dia da consulta com a pediatra e estava tudo bem com o nosso bebé. Quando o meu marido disse à médica que ele estava constantemente na mama, esta limitou-se a passar uma receita de leite artificial, sem demais explicações. Questionei-a sobre as consequências que aquele leite poderia ter no meu bebé, que poderia começar a ter cólicas… A médica rasgou aquela receita e passou outra (leite para bebés com cólicas).

Não era aquilo que eu queria dar ao meu filho, mas, por descargo de consciência, fui comprar a lata à farmácia. Continuaram a dizer-me que tinha de ter paciência, pois o meu leite era fraco.

Chegou o fim-de-semana. Tinha de limpar a casa como sempre fazia. Eu achava que, estando em casa com o bebé, podia ter tudo a brilhar. O meu filho mamava, bebia o suplemento e chorava. Eu não conseguia limpar a casa. Com o marido fora todo o dia, passei o tempo entre mamadas, suplemento e limpeza. Cada vez que dava 30 ml de suplemento, apetecia-me fazer 60 ml para ele não chorar mais – não o fazia porque não era aquilo que eu queria dar ao meu bebé!

Chegou o domingo, já tinham passado 3 dias com suplemento… O meu marido encontrou-me a chorar e tentou consolar-me como sabia – que tínhamos de ter paciência, que se calhar o meu leite não era mesmo suficiente. Até ele começou a duvidar de mim e do meu leite. Mas, dentro de mim, eu sabia que tinha de haver alguma coisa que eu pudesse fazer; algo que pudesse tomar ou comer para ter leite.

Peguei no telemóvel, liguei a Internet e pesquisei. Pesquisei tudo o que estivesse relacionado com a amamentação. Encontrei associações, mas tive vergonha de telefonar e falar com alguém do outro lado; tive vergonha de pedir a alguém que fosse a minha casa – que não estava limpa – e tive medo de que o custo fosse demasiado.

Procurei até encontrar um evento no Facebook que mudou tudo: o 1º Encontro Nacional de Amamentação. E aderi.

No dia em que se realizou o evento, o meu marido, que estava para ir comigo, teve um imprevisto. Eu queria tanto conhecer mães que me explicassem o que poderia fazer para deixar o suplemento, por isso ganhei coragem e fui sozinha. Cheguei quase no fim, mas fui bem acolhida. A organizadora, Rita Oliver, acolheu-me com muito carinho e apresentou-me mães com mais experiência.

Foi a primeira vez que eu e a Filipa dos Santos nos cruzámos, pois ela também estava a participar.

A partir desse dia nunca mais dei suplemento. A segunda lata, que tinha comprado no dia anterior, foi direitinha para o lixo. 

Hoje, reflicto que o custo desta lata podia ter pago o trabalho daquela conselheira de amamentação a quem tive vergonha de pedir apoio. Teria sido dinheiro mais bem empregue.

Encontrei em mim a força, as respostas e a vontade para vencer os desafios e concretizar o meu desejo de amamentar. O meu filho tem 28 meses e continua a mamar! 

Ao longo do crescimento dele, fui sentindo necessidade de ajudar outras mães que se iam cruzando no meu caminho, e que, por qualquer motivo, estavam a dar suplemento aos seus bebés; mas faltavam-me as ferramentas para apoiá-las. Foi assim que, ao surgir oportunidade, fiz a formação de aconselhamento em aleitamento materno e comecei a trabalhar com a Filipa na Amamenta Porto.

Sinto-me lisonjeada por fazer parte deste projeto.

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