O bebé usa chupeta! E agora, como usar corretamente?

O bebé usa chupeta! E agora?

Muito se discute sobre o uso da chupeta, as suas consequências e a sua real necessidade. Mas, quando a família faz a escolha de introduzi-la na vida do bebé, poucas são as vezes – ou praticamente nunca – que recebem orientações para que o seu uso seja feito de forma a minimizar, ao máximo, os seus efeitos negativos no desenvolvimento da estrutura crânio-facial do bebé e na amamentação.

 

A chupeta não precisa de ser a vilã na vida do bebé. Mas, tal como um carro pode ser usado de forma consciente e inconsciente ou a Internet pode ser usada de forma inovadora ou perigosa, esta também pode transformar-se num objeto pernicioso.

Mas o que tem a chupeta a ver com isso? Muita coisa.

Tanto o carro, a Internet, e a chupeta , dependem de alguém , de um ser pensante, que faça uso dessas ferramentas de forma consciente. 

E o que será isso de uso consciente? 

Consciência (1) segundo Descartes é “uma qualidade psíquica, isto é, que pertence à esfera da psique humana, por isso diz-se, também, que ela é um atributo do espírito, da mente ou do pensamento humano. Ser consciente não é exatamente a mesma coisa que perceber-se no mundo, mas ser no mundo e do mundo, para isso, a intuição, a dedução e a indução tomam parte.”

Ou seja, se eu pego uma chupeta porque me disseram que é assim que se faz, ou recebi uma da tia mais fofa da família, ou porque sempre vejo os bebés a usar, ou até porque estava na lista de acessórios necessários da maternidade, e eu insisto com o bebé para que a use, eu estarei a fazer um uso não consciente desse acessório. E a consequência disso será meter a chupeta na boca do bebé sempre que ele chorar; quando ela cair da boca; ou apenas porque o bebé não a tem na boca. No entanto, eu deveria estar consciente e olhar para o bebé, ouvir o seu choro ou a sua inquietação, e até mesmo o seu silêncio. E oferecer sempre e primeiro a MAMA, o colo, a minha voz, o meu cheiro… 

Então, quando é que eu  uso a chupeta de forma inconsciente no meu filho ?

Quando estou sempre a oferecer e a facilitar o seu uso, sem antes perceber se seria mesmo necessária naquele momento.  Dar por dar, sem parar, sem pensar, sem observar. 

Se optaste ou sentiste necessidade de usar chupeta com o teu bebé, fá-lo da melhor maneira – de forma consciente e informada.

Toma consciência, primeiro, que não existe a melhor chupeta. Há a melhor para o TEU filho. Usa sempre o menor tamanho que encontrares, a mais leve e de material apropriado. A chupeta de borracha será preciso trocar mais vezes, pois com o uso perde o seu “formato anatómico”. A de silicone não precisa tanto de ser trocada; toma apenas atenção à altura em que o bebé já apresenta muitos dentes, pois nesta fase ele pode conseguir partir o silicone, com a força sistemática da mordida. 

Segunda coisa a saber, chupeta na boca é sinónimo de sucção. Se o bebé estiver com a chupeta na boca, sem estar a fazer o movimento de sucção, tira. Se ele reclamar, devolve e observa. Para de sugar, tira novamente.  Se o bebé adormecer com a chupeta na boca e parar de sugar, tira e deixa-a próxima dele. E se ele adormecer e a chupeta cair da boca sem que ele dê conta, continuando a dormir tranquilamente, não voltes a introduzi-la.

Se o bebé começou a palrar ou até a falar, nunca deixes que so faça com a chupeta na boca. TiraLembra-te que, em inglês, a chupeta tem o nome de pacifier (“pacificador”), e que o seu uso deve ser para os momentos em que o bebé e/ou o cuidador poderão tirar benefício desse objeto. Porém, o melhor pacifier do bebé será sempre a MAMA. Já para não falar que sugar a chupeta, em alguns momentos, poderá significar menos uma oportunidade para o bebé mamar, fazer sucção nutritiva e envolver todos os sentidos e estímulos envolvidos nesse ato de amamentação.

Por último, uma dica: NÃO utilizes sempre corrente para segurar a chupeta. Elas deixam o acesso livre para o cuidador, consciente ou não, e para o bebé. Quando for preciso usar, para sair de casa, por exemplo, procura as correntes mais leves e simples, de forma a não pesar quando estiver com a chupeta na boca da criança. Além disso, não é necessário estar o dia todo com uma corrente pendurada na roupa do bebé, como se fizesse parte do seu vestuário. Tira assim que puderes.

Caso tenhas lido até aqui para dizer que isto tudo é um exagero, e que “a filha da vizinha usou chupeta até os 15 anos, e tem os dentes perfeitos…”, Atenção! Lembra-te que, além das estruturas orofaciais, o desenvolvimento psicomotor, entre outras coisas, serem fatores únicos em cada individuo, a genética conta e tem o seu peso. Há pessoas com muita sorte, e, voltando ao exemplo inicial, há também quem conduza o carro de forma inconsciente e nunca tenha tido um acidente. Mas, às vezes, as multas chegam tardiamente. Esse é um outro assunto e um novo artigo!

Se precisares de ajuda para saber como usar conscientemente a chupeta, como retira-la, e/ou avaliar possíveis impactos negativos que esteja a ter na alimentação e futuro do teu bebé, marca consulta de Terapia da Fala do Recém-Nascido. Clica Aqui.


Até lá!

Juliana Pereira – Fonoaudióloga, terapeuta da fala especialista em neonatologia, assessora de lactação

  1. Frank, Manfred. 2002. “Self-consciousness and Self-knowledge: On Some Difficulties with the Reduction of Subjectivity”. Constellations9(3):390-408

6 thoughts on “O bebé usa chupeta! E agora, como usar corretamente?

  1. Juliana says:

    Quanto mais pequena a chupeta melhor, mas como saber que temos de trocar para o Tamanho seguinte? A minha bebe ja tem 2 meses, usa o tamanho 0-2, devo mudar para o 0-6?
    Obrigada

  2. Claudia Coelho says:

    As evidências científicas comprovam que a chupeta e outros bicos artificiais são a maior causa de desmame precoce. Como é que uma página de amamentação ainda pondera falar sobre a probabilidade de se usar chupeta?

    • Ana Filipa Antunes says:

      Olá Cláudia,
      Por favor, queira partilhar connosco as suas fontes para as suas afirmações.
      Nós partilhamos consigo as nossas.

      “Pacifier use in healthy term breastfeeding infants, started from birth or after lactation is established, did not significantly affect the prevalence or duration of exclusive and partial breastfeeding up to four months of age. Evidence to assess the short-term breastfeeding difficulties faced by mothers and long-term effect of pacifiers on infants’ health is lacking.”
      https://www.cochrane.org/CD007202/PREG_effect-restricted-pacifier-use-duration-breastfeeding-full-term-infants

      Trabalhamos com todo o tipo de famílias. As escolhas são sempre dos pais. Em matéria de chupeta, idem. Os pais decidem se querem usar ou não. A nós, cabe-nos somente a responsabilidade de informar corretamente, com base na evidência disponível mais recente, com a maior idoneidade possível e, sobretudo, com bom senso.

      Felicidades

      • Sara Plech says:

        Eu concordo com o comentário da Claudia. O próprio estudo citado aqui fala que tem informações insuficientes para avaliar os danos (“However, there is insufficient information on the potential harms of pacifiers on infants and mothers.”). E só avaliou bebês até 4 meses!! Está muito claro que este estudo por si só não pode ser utilizado para afirmar qualquer coisa a respeito do uso de chupeta.
        A própria OMS recomenda que o aleitamento materno seja mantido até dois anos ou mais. De nada adianta um estudo que só avalia bebês até 4 meses.
        Como uma entidade séria que preza pela amamentação, na minha opinião, deveria ser feita uma pesquisa mais extensa e profunda antes de publicar qualquer coisa que relativize o uso de chupetas ou qualquer outro tipo de bico artificial.

        • Ana Filipa Antunes says:

          Olá Sara, obrigada por contribuir para a discussão.
          Repare que não citámos um estudo. Citámos uma revisão sistemática publicada na biblioteca Cochrane, que identificou 2 estudos com qualidade suficiente sobre o tema, com uma amostra total de 1302 bebés, que permitem chegar a conclusões de evidência moderada.
          “In motivated mothers, there is moderate-quality evidence that pacifier use in healthy term breastfeeding infants before and after lactation is established does not reduce the duration of breastfeeding up to four months of age. However, there is insufficient information on the potential harms of pacifiers on infants and mothers. Until further information becomes available on the effects of pacifiers on the infant, mothers who are well-motivated to breastfeed should be encouraged to make a decision on the use of a pacifier based on personal preference.”
          https://www.cochrane.org/CD007202/PREG_effect-restricted-pacifier-use-duration-breastfeeding-full-term-infants

          Além disso, convido-a a ver também os seguintes estudos com grupo de controlo randomizado (RCT) que, em termos de nível de evidência científica), ficam logo abaixo das revisões sistemáticas:
          “strongly suggesting that pacifier use is a marker of breastfeeding difficulties or reduced motivation to breastfeed, rather than a true cause of early weaning.” https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/11466098/
          “we determined that the method of giving pacifiers to preterm infants during gavage feeding reduced the infants’ transition period to oral feeding and the duration of hospital stay. In addition, the pacifiers could be used during gavage feeding and in the transition from gavage to oral/breastfeeding in preterm infants to encourage the development of sucking ability.” https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/29912580/

          Outra revisão sistemática, de 2009, conclui:
          “The highest level of evidence does not support an adverse relationship between pacifier use and breastfeeding duration or exclusivity. The association between shortened duration of breastfeeding and pacifier use in observational studies likely reflects a number of other complex factors, such as breastfeeding difficulties or intent to wean. Ongoing quantitative and qualitative research is needed to better understand the relationship between pacifier use and breastfeeding.” https://jamanetwork.com/journals/jamapediatrics/fullarticle/381289

          O uso de chupeta não deve ser incentivado levianamente, mas também não deve ser indicado como proibido e incompatível com a amamentação, segundo a evidência disponível atualmente. No futuro, com mais evidência, podemos vir a descobrir que é totalmente contra-indicada, ou clarificar exatamente o oposto.
          Volto a reiterar que na Rede Amamenta defendemos, sim, escolhas informadas. É isso que guia a nossa prática no dia-a-dia e nos conteúdos informativos que facilitamos.

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