Estou grávida e tenho perdas de urina

Quantas vezes já deste por ti nesta situação? Tu que estás grávida e volta e meia tosses ou ris muito e ups!! Xixi!

Pois bem, não te sintas sozinha! Existem neste momento imensas mulheres a passar pelo mesmo que tu. Por esse motivo, decidi escrever este artigo para tentar explicar, da melhor forma possível, o que origina sintomas como este na gravidez.

Existem vários fatores que podem contribuir para disfunções e/ou sintomas no pavimento pélvico ao longo da gravidez, tais como:

  • Fatores hormonais;
  • Fatores mecânicos;
  • Fatores metabólicos;
  • Fatores fisiológicos;
  • Fatores emocionais.

O objetivo deste artigo é explicar, resumidamente, todos os fatores referidos anteriormente, de forma a esclarecer como ocorrem algumas alterações e a importância da prevenção/tratamento precoce das mesmas.

Durante a gravidez há uma alteração hormonal intensa. Existem três hormonas muito importantes que atuam nesta fase, promovendo alterações que se podem prolongar no período pós-parto. Estou a falar do Estrogénio, da Progesterona e da Relaxina.

A ação conjunta destas hormonas potencia o aumento da mobilidade articular e dos órgãos pélvicos, através da promoção de hipermobilidade ligamentar. Os ligamentos dão suporte aos nossos órgãos e são responsáveis pela estabilidade/mobilidade das articulações. Ou seja, com a ação hormonal estes ligamentos têm maior mobilidade, o que indica que as nossas articulações e também os nossos órgãos não estão tão estáveis como na fase pré gravídica. Devido a estas alterações é comum haver mulheres com sintomas de dor na região lombopélvica por disfunção sacroíliaca, da sínfise púbica, entre outras.

Já os fatores mecânicos estão relacionados com as alterações posturais e musculares que ocorrem neste período.

Como todas vão percebendo, à medida que a barriga cresce a coluna sofre alterações, aumentando a lordose lombar (curvatura da lombar), aumentando a rigidez na região torácica e a anteriorizarão da cabeça. Com o crescimento da barriga está também associado o alongamento dos abdominais e a hiperatividade dos músculos da coluna (aqueles que estão junto às nossas vértebras e percorrem toda a coluna, os paravertebrais). Também nos membros inferiores existem músculos diretamente ligados à pélvis que apresentam sinais que hiperatividade.

A junção das alterações posturais e da fraqueza/hiperatividade muscular nos diferentes grupos musculares, as articulações estão sujeitas a mais sobrecarga e menos estabilidade. Daí o aparecimento de dor na região lombopélvica (que pode ou não irradiar para outros locais), estando por vezes presente ou associada a atividades do dia-a-dia como levantar, rodar na cama, caminhar ou transportar pequenos pesos.

Como se as alterações referidas já fossem poucas, ainda temos as alterações fisiológicas e metabólicas inerentes à gravidez. Mas atenção, o corpo da mulher foi concebido para isto! Basta confiar e ajudá-lo durante este processo!

Todo o corpo sofre alterações aquando a gravidez, algumas delas como o aumento do útero (que influencia os órgãos circundantes, como a bexiga e uretra) e das mamas; o aumento da frequência urinária e da função renal; o aumento do fluxo sanguíneo, do output e frequência cardíaca; a diminuição de motilidade do estômago e tónus do esófago (associado à azia) e também diminuição da motilidade intestinal (associado à obstipação); o aumento da retenção de líquidos (associada a edema em diferentes zonas); maior consumo de oxigénio; o aumento da atividade das glândulas endócrinas, como a tiróide; o aumento de peso; e claro, as alterações emocionais.

Estas são algumas das alterações que ocorrem durante a gravidez. Se as associarmos, já temos provas suficientes de que de facto estar grávida não é pera doce!

Voltando ao nosso tema inicial, o pavimento pélvico, após toda esta informação podemos juntar as peças e perceber o porquê de acontecerem as perdas de urina ou outras disfunções durante a gravidez.

As hormonas trabalham no sentido de diminuir o tónus muscular e de aumentar a mobilidade articular e ligamentar. Em simultâneo, temos os principais estabilizadores da região da coluna e da pélvis fracos e por vezes incapazes de realizar a sua função. Em contrapartida temos outros grupos musculares com excesso de atividade. Para o pavimento pélvico, que se encontra na base da pélvis, isto traduz um esforço para suportar o aumento do peso e ao mesmo tempo estar funcional quando precisamos dele.

Com o aumento da curvatura lombar o nosso pavimento pélvico também sofre um alongamento passivo, visto que os seus músculos e fáscia estão diretamente ligados à nossa coluna.

Sabemos então que se os músculos do pavimento pélvico não tiverem uma atividade correta, facilmente ocorrem as perdas de urina, associadas ao aumento da pressão intra-abdominal.

De facto as perdas são comuns nesta fase, mas não é por isso que as devemos considerar normais, principalmente se forem recorrentes ao longo da gravidez. Isto é um sinal de que o pavimento pélvico precisa de ser avaliado para ser reeducada a sua função.

Com este artigo quis esclarecer o porquê destas situações acontecerem e aconselhar a prevenção das mesmas. Avaliar o pavimento pélvico não é doloroso nem implica qualquer contra-indicação para mulher, podendo ser uma forma de prevenir disfunções e minimizar as disfunções pós-parto.

A avaliação pode ainda ser benéfica no sentido da mulher obter dicas para prevenir ou minimizar possíveis disfunções.

Prevenir é bom!

AUTORA: SARA BARBOSA – FISIOTERAPEUTA ESP. SAÚDE DA MULHER

Para encontrar estas e outras informações, consulte:

Fulan A.D., van Tulder M.W., Cherkin D.C., Tsukayama H., Lao L., Koes B.W., et al. (2005). Acupunture and dry-neeling for low back pain. Cochrane Database Syst. Rev. (1) DOI: 10.1002/14651858.CD001351.pub2;

Jill Mantle, J.H. (2004). Physiotherapy in Obstetrics and Gynaecology (2 Ed). Butterworth Heinemann;

Kanakaris N.K., Roberts C.S. & Giannoudis P.V. (2011)  Pregnancy- related pelvic girdle pain: na update. BMC Medicine;

Kari Bo, B.B. (2007). Evidence-based Physical Therapy for the Pelvic Floor- Bridging Science and Clinical Practice. (Elsivier) Butterworth Heinemann;

Sapsford, R. (2004) Reabilitation of pelvic floor muscles utilizing trunk stabilization. Feb 9(1); 3-12;

Stephenson, R.G. & O’Connor, L.J. 2000. Obstetric and Gynecologic Care in Physical Therapy (2nd ed.) SLACK Inc. NJ.

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